sexta-feira, 20 de abril de 2012

" Aquele que conhece os outros é sábio.
Aquele que conhece a si mesmo é iluminado..."

Lao Tsé


“Meu coração está aos pulos! Quantas vezes minha esperança será posta à prova? Por quantas provas terá ela de passar? Tudo isto que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro... Do meu dinheiro, do nosso dinheiro, que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais. Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais...
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz. Meu coração está no escuro. A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam. ‘Não roubarás’. ‘Devolva o lápis do coleguinha’; ‘esse apontador não é seu, minha filha’. Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido de escutar, até habeas corpus preventivo, coisa da qual eu nunca tinha ouvido falar e sobre a qual minha pobre lógica insiste. Esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se meteram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido. Então agora eu vou sacanear, mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem.

Dirão:
- ‘Deixa de ser boba! Desde Cabral que aqui todo mundo rouba.
E eu vou dizer:
- ‘Não importa, não será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez, eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês’.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau!
Dirão:
- ‘É inútil! Todo mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal’!
E eu direi:
- ‘Não admito! Minha esperança é imortal. E eu repito: i-mor-tal’!
Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final”.

Elisa Lucinda